O Poeta Desgraçado
Ó senhor eloqüente,
Estás calado demais.
Pensas em escrever poemas de dor?
Se for, não sujes papel por pouco.
Ó poeta desgraçado,
Que te acometeu?
São dores de amor, bem sei!
Ora, é a mais inútil de todas as dores.
Fosse a fome, a morte ou a miséria,
Teria até pena de ti
Mas são inúteis as dores de amor
E me afastei da triste figura
Porém sua voz me alcançou
E falou-me em tom melancólico:
Pois doem os males de amor,
Mais que mil agulhas penetrantes
Veneno que contamina a alegria
E dor mais aguda, talvez.
Eis que minha amada me disse:
Não posso mais estar contigo
Não mais como fora
E eu consenti ainda apaixonado.
Impus-me então uma regra:
“Não lhe toques, nem lhe beijes”.
Mas como toda alma que impõe regra
Quis quebrá-la mais que tudo
Quando a contemplo no sono
E em seu frio a cubro com meu manto
Sua face continua a mais bela
E sua paz a mais singela
Sua voz ainda me acalma
Sua boca ainda me chama
Ainda é ela,
Parte de mim
Mas estou preso a mim mesmo,
À regra que impus para o bem dela.
E assim não posso tê-la,
Ainda que a ames.
E doente de amor,
Só me restam os versos
Enquanto espero o fim.
E calou-se
Pegou a caneta.
Sentou na velha mesa,
E pôs-se a escrever,
Melancolia nos olhos
E os meus se encheram,
De lágrimas que teimaram em não cair
Ainda que naquele homem tenha visto
A mim mesmo, e a todos os românticos.
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