quinta-feira, 9 de setembro de 2010

História de um homem sem nome - Parte 2

Depois de uma (não) merecida sova, o guarda chamou o parceiro, enfiou o recém-nascido aos pontapés na viatura e foi largá-lo na delegacia. Iniciaram o boletim, acusação: atentado violento ao pudor. Na hora de fazer a ficha, o primeiro problema: o nome.
- Qual o seu nome rapaz? – perguntou o escrivão.
Silêncio.
- What’s your name?
Silêncio.
E pôs-se a despejar todo seu poliglotismo, característica pela qual era um tanto conhecido na cidade, mas que na verdade não passava das perguntas da ficha em várias línguas. Falou em italiano, espanhol, russo e chinês. O recém-nascido por um momento quase achou que aquele homem também não sabia juntar as idéias na fala, mas logo viu que não era bem isso.
Depois desse inútil esforço, o escrivão se virou e disse:
- Olha, não adianta ficar resistindo, já está aqui rapaz, que custa dar os dados de uma vez, já que não escapatória?
Silêncio.
- Que sujeitinho difícil. – resmungou o escrivão.
Apelaram então a tecnologia, e puseram a impressão do recém-nascido na rede afim de descobrir sua procedência.
O coitado permanecia calado, já que não entendia nada e pensou que emitir ruídos poderia lhe causar problemas de novo. Começou a ter um pouco de frio e as algemas incomodavam. Ainda sim, preferia o silêncio.
O computador porém, pesquisou e pesquisou, e no fim não encontrou foi nada.
- Esse rapaz deve ser estrangeiro mesmo, só pode. Tão grande essa cidade, cai uma figura dessas logo na nossa área. Enfie ele numa cela até o delegado chegar. Ele vai decidir o que fazer com ele.
E assim, o recém-nascido foi preso.

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