segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Velha e repetida história (o que uma noite de insônia não faz?)

Velha e repetida história

E então, em determinada parte da vida,
O pobre coitado aprender a se apaixonar.
E depois da primeira vez,
Tomado de vício, nunca parou.

Apaixonava-se sem ao certo saber como
E com sentimento desajeitado e
Tímido, nada fazia.
E assim corria o tempo.

Dentre essas pequenas paixões,
Nenhuma havia que pudesse amar,
Até que lhe surgiu na frente,
A verdadeira Primeira.

Era ela alegre,
Às vezes triste,
Às vezes nem era,
Às vezes só ela.

Mas dela nada tirou,
E na solitude aprendeu,
Que a paixão tem efeitos colaterais,
Devastadores.

Intervalo, sentemos.
Passam algumas meninas,
Pequenas gotas de desejo e nada mais.
Existe amizade, também.

Então conheceu a louca.
Ela era perfeita, e diferente.
Era tudo que sonhava.

Até que descobriu,
Que no fim não era nada.
Triste engano.

E a ressaca da droga,
Na segunda vez,
Sempre pior.

Então conheceu o anjo.
E o anjo era lindo.
Porém, tal o sentimento era distante,
Como a luz que vem do sol.

E como uma estrela,
A milhares de quilômetros.
Morreu, sem nem ao certo se saber
Como. (Mistério)

Quando conheceu a dúvida,
Ainda estava com o anjo.
E por deverás a dúvida, ironicamente
O fez chegar a uma conclusão.

Palmas, encerrado o caso da morte do sentimento.
Prossigamos com a dúvida, então.

E a dúvida, (linda)
Ia e voltava, instável.
Assim, nunca se sabia se estava,
Ou não. (imensa confusão)

E por falta de conclusão
(ou será solução?)
Acabou ela com outro,
E ele ferido.

Pobre herói, abatido.
Retira-se da batalha.
E ressaca continua,
Sempre pior, pior.

Cansados?
Ainda faltam fatos,

É enquanto nosso herói,
Confuso, se lembra
Da Amizade.

Sim, a Amizade.
Evoluíra, e chegava
A estrada do coração,
E ali fazia morada.

Ah, linda perfeição.
Se pudesse, duraria mais.
Mas ainda que tudo estivesse certo,
Nunca se confia na paixão.

A Amizade se foi também,
Abrupta. Ele foi a chão.
Sempre pior, pior.
Pior que qualquer outra.

(Silêncio)
E então, desistiu.

...

(Revolta)
Calma, ainda não acabou.
E nessa situação,
Encontrou alguém semelhante.

Linda, sim, muito.
Mas todas são.
Se não, aos olhos de quem quer,
Ao menos.

E achou que tudo daria certo.
Mas não foi exatamente assim.
A Promessa (sim, era esse o nome)
Estava presa a um passado.

Ainda sim ele tentou,
Arrancando de si uma parte,
Que mal sabia que já era dela.
Acordes soaram.

Mas A Promessa,
Não se abalou.
E assim...

Não foi pior.
(Surpresos?)

Algo se aprende da vida.
O viciado em paixão,
É o viciado em viver.

E por isso, é necessário
O conhecimento de
Tudo que há de se enfrentar.

E ele aprendeu,
Com dor e amor,
Essa arte.

Sua história não acaba aqui.
Essas foram algumas, houveram outras.
E quem sabe haverão.

Atualmente está apaixonado por uma Estrela.
Viu a brilhar numa noite de beleza,
E caiu de amores.

Porém, na noite seguinte
Não conseguiu encontrar a Estrela.
Está a procurar.
E há de ficar assim.

Logo acha, ela amana um brilho único.
Um vermelho fulgaz.
A paixão.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Duas do fundo da gaveta: Os Delírios de Ariel

Trago o conjunto de delírios de Ariel, duas poesias piegas e românticas, escritas a tempos. Somente a noite e o tédio, unidas a certo amor paternal de autor, puderam fazer elas saírem literalmente do fundo da gaveta, para a publicação.

__________

Nós (1º Delírio de Ariel)

Na solitude do eu,
Busco encontrar o talvez nós.
No silêncio dessa noite,
Conduz-me mal do século.

Eis que se faz o delírio.
Lhe vejo, minha musa torta
Mais bela que mil retas.
E por ti caio de amores
Fingindo ignorar as dúvidas,
De não saber se sou para ti.

Não sou herói de romances,
sou a pobre mente por trás deles.
Não sou boêmio de bares,
mas poeta perdido dentre lares.

São essas paredes que me acolhem,
quando a dor me suprime o ego.
Ao som de qualquer acorde,
De melodia triste ou sádica.

Te vi em um sonho e foi bom.
Invadistes minha mente, linda menina.
Teus erros me seduziram,
Ainda que não saiba,
Se sou eu para ti.

Sou louco, e sempre fui.
Agora minha loucura se faz em ti.
E a cada tropeço,
Minha musa de erros,
Lhe dou meus acertos.

Doce delírio,
Vã ilusão.

Quem sabe possamos um dia acertar,
Ou erro mais uma vez, meu amor.
O erro de nossas vidas,
Que erremos juntos.

Que sejamos nós.
Nós...

__________

Alucínio (2º Delírio de Ariel, Post Factum)


Uma caneta e um papel.
Distraio-me.

Faço-me anjo querubim,
imagem pura, mística.

Distraio-me.
Faço-me vil figura.
Encharco-me do sangue de inimigos,
Servido em cálice de crânio.

Distraio-me.
Acuso-me dos males do mundo.
Dou minha própria
sentença, a morte.

Morro de morte matada,
Nocauteio a mim mesmo.
E sangro, inútil.
Num abismo sem fim, caio.

Me vejo no centro da Terra.
Percebo-me carregando o mundo.
Ele pesa mais que mil planetas.
Minhas costas ardem.

Vejo o papel que presto,
e a dor que provém dele.
Quero largá-lo,
Mas temo que se machuque.

Me vejo só.
Uma praia me rodeia.
Sou Ícaro.
Despido, encaro o Sol.

Visto minhas asas,
e cego parto rumo a meu objetivo.
Derretem-se, se desfazem.
Mais uma vez, caio.

Estou em mim.
Vejo o papel que me presto.
E sangro, inútil.
Cego de amor.

domingo, 26 de setembro de 2010

Pequeno canto para abrir a noite

Pequeno canto para abrir a noite

E então parou diante do lago,
Estava deprimido.
Então deu-se conta,
Que aquela princesa jamais lhe beijaria de novo

Visto isso, raciocinou
E viu que havia muitas outras no mundo,
E que tudo havia chegado ao fim.

Então tornou a virar sapo,
E foi curtir com os amigos.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Stella (2008)



Vivemos em um mundo em que realidades próximas conseguem ser extremamente opostas. Alguns vivem de forma simples, despreocupado. Tem acesso a conhecimento e o abraçam por puro prazer. Outros nascem em ambientes estranhos, e tem uma vida diferente. Nem sempre podem ser despreocupados, às vezes acabam convivendo cedo demais com o lado sujo do mundo. Não tem acesso ao conhecimento como deveriam, e acabam por conhecer cedo demais coisas que não deveriam. É mais que a velha história de “o pobre e o rico”, seria como “o que nasceu bem, e o que nasceu mal”. Porém, ainda que dois indivíduos tenham nascido em lados opostos, sempre existe a possibilidade de mudança, de encontro e a chance de uma vida nova. Em partes, Stella é sobre isso.

O filme gira em torno da menina do título, Stella. Logo na abertura somos apresentados a personagem pela imagem que inicialmente a descreve. Stella, dançando em trajes que não condizem a sua idade (apenas 11 anos), ao redor de adultos. Apesar de tudo, uma criança, expressa inocência, mas não a tem completa. Stella é um paradoxo, sabe de muitas coisas do mundo adulto (“[...]Sei dos times de futebol. Sei fazer coquetéis e jogar fliperama. Sei as regras do bilhar e sei jogar cartas. Sei várias letras de música de cor. Sei quem é sincero e quem mente. Sei como se fazem bebês e como se transa. [...]) e ao mesmo tempo, continua sendo apenas uma menina (“Só que no resto... sou péssima”). Os pais de Stella são donos de um bar, e assim a menina viveu cercado por elementos de credibilidade duvidosa, como criminosos, bêbados e prostitutas. Porém, é tão acostumada a esse mundo que tem amigos nele, e está acostumada. Esse é o mundo de Stella.

 Mas as coisas mudam quando a menina vai para uma escola de crianças ricas. Sendo a única a não ser uma “criança protegida”, no começo Stella se sente completamente isolada, tentando apesar suportar a escola para poder retornar ao seu mundo. As coisas mudam quando ela entra em contato com Gladys, a filha de um psiquiatra. Aos poucos elas se tornam amigas, e Stella é apresentada a um mundo totalmente novo. Por isso Setlla é um filme também sobre amadurecimento, sobre ritos de passagem da infância para a adolescência. Um filme sobre descobertas, de si mesmo e do outro, do que se quer e não se quer.

A abordagem da estreante Sylvie Verheye é delicada, e é notável seu esforço para aproximar a personagem do público. A narração da própria Stella é a principal responsável por seu sucesso nesse ponto. Além disso, Sylvie mostra certo apuro técnico em sua forma de filmar, e tem a ajuda de um competente elenco (com destaque a Léora Barbara, a protagonista) para compor cenas marcantes.

O fotografia do filme é discreta, mas bonita, mas o que mais trouxe beleza ao filme foi sua ambientação: os anos 70 franceses. Os figurinos, os personagens, e principalmente a trilha sonora. As músicas dão o tom certo para cada cena e são lindas. Principalmente nas cenas no bar dos pais de Stella, ela cria uma imersão incrível. 

Passamos a admirar também de certa forma esse ambiente boêmio. E ao mesmo tempo, algumas horas nós o desprezamos. O filme se sustenta nesse paradoxo entre o doce e o amargo. Assim como sua própria musa, de temperamento hora angelical e as vezes violento. As melhores cenas do filme para mim são as que Stella passa ao lado de sua “amiga do norte”, Ginneviève. O encontro dessas duas pessoas de histórias semelhantes, mas agora anseios diferentes. E principalmente, esse primeiro momento do filme em que veremos que por maiores que sejam em mente, ainda são meninas.
Stella tem apenas alguns defeitos. O primeiro deles é perder a qualidade conforme vai se aproximando dos momentos em que Stella vai descobrindo seus sentimentos. Há um fato que poderia ter sido bem mais marcante, mas o filme passa quase por cima. Parece que simplesmente depois de uma hora e vinte de metragem, o filme perde o fôlego e acaba quase se entregando nos minutos finais. Mas ainda sim, os momentos finais de Stella voltam a ter certo brilho.

Por fim, o resultado é satisfatório. Stella é um filme que consegue cumprir o seu o objetivo, e é competente nisso. É um filme sobre a evolução de um personagem, ou simplesmente: o amadurecimento de uma menina. E ao final de tudo, uma frase resume a trajetória: “Ela começou lá de baixo, e conseguiu evoluir”.


Enquanto o Sol Nascia

Enquanto o Sol Nascia

Sonhava com um anjo.
Tinha forma de mulher,
Os traços suaves
E a pela aveludada.
Contemplava de longe aquele anjo.
Lindas asas do mais puro branco
E belo par de pernas.
Então o anjo se virou pra mim,
Seu olhar era tão doce
Que me paralisou.
E o anjo foi se aproximando.
Meu coração inspirado
Fazia orquestra em meu corpo.
O anjo se fez tão próximo
Que não resisti ao impulso
E quis tocar-lhe o rosto.
Quando senti sua pele,
A mão do anjo veio
E afastou a minha.
O anjo foi se distanciando,
E eu nada pude fazer.
Fiquei a olhá-lo,
Tão lindo,
Tão distante.

Então acordei em meu leito,
E senti um sopro
De ausência.