Devido ao sucesso estrondoso de A Better Tomorrow e provavelmente sobre muita pressão, John Woo concebeu essa sequência direta que retome, de certa forma, o mesmo tema do original: a busca de redenção de um criminoso. O resultado acabou sendo um filme com um roteiro com menor qualidade em relação ao primeiro, porém com muito mais ação, o que até compensa algumas forçadas de barra à la novela no enredo.

A Better Tomorrow II começa Ho preso recordando dos eventos ocorridos no primeiro filme e logo em seguida lhe é ofertada a proposta de liberdade se ajudasse a polícia a investigar um antigo amigo, Lung. Como Ho recusa, o trabalho acaba caindo para seu irmão Kit, que se infiltra na família de Lung seduzindo sua filha. Ao saber disso, Ho acaba concordando em ajudar a polícia também. Assim, com os dois irmãos em cima de Lung, descobrimos que ele se afastou do submundo e tem tentando uma vida normal com sua empresa. Porém, alguém arma uma cilada para Lung, o incriminando por um assassinato, e com a ajuda de Kit e Ho ele é mandado para Nova York. Em Nova York, Lung entra em colapso após ver o amigo que tinha lhe dado abrigo ser brutalmente assassinado em sua frente. É então que no momento "forçando a barra", nos é apresentado Ken, o irmão gêmeo de Mark do primeiro filme que afastado do crime tenta tocar um restaurante, a quem é pedido que tome conta de Lung e o ajude a voltar a si.
O roteiro escrito por Woo e o produtor Hark Tsui, apesar de possuir grandes momentos emotivos como o primeiro(o esforço de Ken para quebrar o estado de choque de Lung e a cena de Kit falando com sua filha pelo telefone são momentos particularmente grandiosos), possui bem mais tiroteios e alguns momentos um pouco deslocados(a superstição de Kit sobre a sua morte principalmente). Mas o principal problema é que originalmente o filme deveria 160min, mas Tsui fez com que Woo cortasse o filme para um formato mais comercial, no caso 120min, que permitia aos cinemas de Hong Kong exibi-los mais vezes aos dia. Assim, os dois entraram em conflito acerca do que deveria ser cortado: Tsui achava que deveria se dar mais foco a Lung, enquanto Woo queria manter os protagonista originais nos holofotes. Nessa batalha, acontecia que o que Tsui tirava, Woo voltava e colocava, tirando algo que Tsui tinha deixado. Como obviamente a situação ficou inviável, a solução encontrada foi mandar os rolos do filme para uma empresa especializada realizar a edição, o que resultou em uma edição meio incerta, que acaba espremendo os fatos na segunda metade do filme.
A parte técnica continua impecável, e a ação começa atingir o nível de insanidade por qual Woo é famoso. Mas se tem uma característica marcante em A Better Tomorrow II é todo o exagero na violência inserida no filme, com muitos litros de sangue falso, faíscas, explosões e uma contagem de corpos de fazer inveja. Woo declarou que ódio fazer o filme todo, exceto a cena final, e devo dizer que eu entendo ele. Se todo o filme pode até ser dispensável, a cena final é antológica: um massacre com sangue voando pra todos os lados, um duelo protagonizado por Yun Fat, chegamos a ver Lung Ti lutando com uma katana (!), isso só pra dar uma olhadinha por cima.
A Better Tomorrow II foi um sucesso ainda maior que o primeiro e Woo chegou a escrever um roteiro para o terceiro filme, mas devido as desavenças com Hark Tsui durante as filmagens desse, abandonou a franquia. Tsui então resolveu reescrever o roteiro de Woo a sua maneira e dirigiu ele mesmo A Better Tomorrow III. Enquanto Woo gostou tanto de seu roteiro, que fez as adaptações necessárias e o filmou em Bullet In The Head.
Apesar de alguns tropeços no roteiro e uma pós-produção conturbada, A Better Tomorrow II mantém um nível alto, com grandes momentos e o melhor do heroic bloodshed, e foi o pontapé final de Woo para a ação exagerada. Isso tudo o faz merecer o status que tem.