segunda-feira, 18 de julho de 2011

Algumas considerações sobre TCCs e fraquezas emocionais

Basicamente, as pessoas vivem suas vidas em tornos de dois tipos de problemas: os reais e os emocionais. Quando eu falo de problemas reais, falo do que é palpável. Doenças, mazelas sociais, em suma, tudo o que provoca dor e preocupação de uma forma direta. Você enxerga aquilo mais do que sente aquilo. Na imperfeição que é esse mundo baseado no caos simples, muitas pessoas vivem esse tipo de problema claramente.
Porém, em proporção igual (se não geométrica), os problemas emocionais estão presentes. E eles são um saco. Isso porque basicamente está tudo em você, na sua cabeça, no que você sente. E isso de persegue, te sufoca...
Então você para e está na semana da pressão, você algo grande a terminar (no meu caso, um trabalho de conclusão de curso), isso te tira o sono, te tira o tempo. Um problema real, existente. Sufocado em trabalho, noites e noites sem descansar. Mas as pessoas tem o magnífico dom de quando as coisas já estão ruins elas piorarem ainda mais. E nisso eu sou ótimo.
No fundo todo mundo tem algo que não supera, algo que faz falta. A ausência é possivelmente a sensação mais torturante. Você não sente mais prazer, não sente mais ânimo, a vida no piloto automático. Você só pensa nisso e só vive isso... e não trabalha direito.
Pulemos os detalhes dolorosos e exaustivos do processo.
Acho que toda essa história de ter atrasado o meu tcc, perdido noites de sono e ainda sim estar emocionalmente abalado pela ausência dá pra tirar apenas uma coisa: o agora.
Agora, nesse exato momento, eu vivo uma sensação muito boa. Então você para e pensa como todo o sofrimento é realmente relativo. As coisas foram entregues, as devidas conversas feitas. A situação não mudou muito mas de certa forma... dá pra se sentir bem.

No fim a maioria das coisas pode ser superada, emocionalmente ou na realidade, é só uma questão de esforço. (Falo a maioria porque meu realismo leva em conta que tem coisas realmente impossíveis, de qualquer forma.)

Enfim, agora sou oficialmente um técnico desempregado e possivelmente postarei mais, oh yeah.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Better Tomorrow II ou Alvo Duplo II (1987)


Devido ao sucesso estrondoso de A Better Tomorrow e provavelmente sobre muita pressão, John Woo concebeu essa sequência direta que retome, de certa forma, o mesmo tema do original: a busca de redenção de um criminoso. O resultado acabou sendo um filme com um roteiro com menor qualidade em relação ao primeiro, porém com muito mais ação, o que até compensa algumas forçadas de barra à la novela no enredo.


A Better Tomorrow II começa Ho preso recordando dos eventos ocorridos no primeiro filme e logo em seguida lhe é ofertada a proposta de liberdade se ajudasse a polícia a investigar um antigo amigo, Lung. Como Ho recusa, o trabalho acaba caindo para seu irmão Kit, que se infiltra na família de Lung seduzindo sua filha. Ao saber disso, Ho acaba concordando em ajudar a polícia também. Assim, com os dois irmãos em cima de Lung, descobrimos que ele se afastou do submundo e tem tentando uma vida normal com sua empresa. Porém, alguém arma uma cilada para Lung, o incriminando por um assassinato, e com a ajuda de Kit e Ho ele é mandado para Nova York. Em Nova York, Lung entra em colapso após ver o amigo que tinha lhe dado abrigo ser brutalmente assassinado em sua frente. É então que no momento "forçando a barra", nos é apresentado Ken, o irmão gêmeo de Mark do primeiro filme que afastado do crime tenta tocar um restaurante, a quem é pedido que tome conta de Lung e o ajude a voltar a si.


O roteiro escrito por Woo e o produtor Hark Tsui, apesar de possuir grandes momentos emotivos como o primeiro(o esforço de Ken para quebrar o estado de choque de Lung e a cena de Kit falando com sua filha pelo telefone são momentos particularmente grandiosos), possui bem mais tiroteios e alguns momentos um pouco deslocados(a superstição de Kit sobre a sua morte principalmente). Mas o principal problema é que originalmente o filme deveria 160min, mas Tsui fez com que Woo cortasse o filme para um formato mais comercial, no caso 120min, que permitia aos cinemas de Hong Kong exibi-los mais vezes aos dia. Assim, os dois entraram em conflito acerca do que deveria ser cortado: Tsui achava que deveria se dar mais foco a Lung, enquanto Woo queria manter os protagonista originais nos holofotes. Nessa batalha, acontecia que o que Tsui tirava, Woo voltava e colocava, tirando algo que Tsui tinha deixado. Como obviamente a situação ficou inviável, a solução encontrada foi mandar os rolos do filme para uma empresa especializada realizar a edição, o que resultou em uma edição meio incerta, que acaba espremendo os fatos na segunda metade do filme.


Deixando o roteiro de lado, as atuações do filme continuam no mesmo nível do primeiro. Dean Shek, que interpreta Lung, foi uma boa adição ao já ótimo trio formado no primeiro filme por Lung Ti, Leslie Cheung e Chow Yun Fat. Aliás, sobre Yun Fat tem que se comentar. Apesar de seu personagem Ken ter sido inserido na força, é inegável que não existiria filme sem ele. Ao contrário de Mark, que devido ao próprio rumo da história, adquiriu uma certa melancolia, Ken é muito mais descompromissado e sarcástico, sem deixar de lado a honra que o irmão já possuía. Sem contar que o visual de Ken vestindo o sobretudo todo furado pelos tiros  que o irmão tomou é ainda mais cool que a visão de Mark.

A parte técnica continua impecável, e a ação começa atingir o nível de insanidade por qual Woo é famoso. Mas se tem uma característica marcante em A Better Tomorrow II é todo o exagero na violência inserida no filme, com muitos litros de sangue falso, faíscas, explosões e uma contagem de corpos de fazer inveja. Woo declarou que ódio fazer o filme todo, exceto a cena final, e devo dizer que eu entendo ele. Se todo o filme pode até ser dispensável, a cena final é antológica: um massacre com sangue voando pra todos os lados, um duelo protagonizado por Yun Fat, chegamos a ver Lung Ti lutando com uma katana (!), isso só pra dar uma olhadinha por cima.

A Better Tomorrow II foi um sucesso ainda maior que o primeiro e Woo chegou a escrever um roteiro para o terceiro filme, mas devido as desavenças com Hark Tsui durante as filmagens desse, abandonou a franquia. Tsui então resolveu reescrever o roteiro de Woo a sua maneira e dirigiu ele mesmo A Better Tomorrow III. Enquanto Woo gostou tanto de seu roteiro, que fez as adaptações necessárias e o filmou em Bullet In The Head. 

Apesar de alguns tropeços no roteiro e uma pós-produção conturbada, A Better Tomorrow II mantém um nível alto, com grandes momentos e o melhor do heroic bloodshed, e foi o pontapé final de Woo para a ação exagerada. Isso tudo o faz merecer o status que tem.


Curiosidade: os fofoqueiros do mundo do cinema dizem que o Tarantino tirou a idéia dos ternos em Cães de Aluguel da cena final de A Better Tomorrow II.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Better Tomorrow ou Alvo Duplo (1986)


A maioria das pessoas foi conhecer John Woo somente com sua ida ao EUA (que rendeu filmes bem legais, como A Outra Face, e coisas bem fraquinhas, como O Pagamento), mas a verdade é que o diretor começou sua carreira nos anos 70 com filmes de artes marciais (a maioria de época) e comédias. Mas Woo só foi deixar sua marca verdadeiramente no anos 80, quando na tentativa de ressuscitar os filmes de gangsters chineses deu origem aos heroic bloodsheds, dando início a uma nova onda no cinema não só de hong kong, mas de toda a indústria da ação. Apesar de ter produzido dois filmes com estilo próximo antes deste, A Better Tomorrow (no Brasil, Alvo Duplo) foi o marco do início da boa fase dos filmes de ação de Hong Kong.


A história se inicia com Ho, um gangster decido a fazer seu último trabalho e viver uma vida honesta. O principal motivo para Ho fazer isso, é o desejo de não entrar em conflito com seu irmão Kit, prestes a se formar na academia de polícia, e que não sabe dos negócios do irmão. Porém, ocorre uma traição e Ho acaba capturado pela polícia. Paralelo a isso, uma grande tragédia faz com que Kit descubra toda a verdade sobre o irmão. Mark, melhor amigo de Ho, decide se vingar sozinho dos traidores, e apesar de executar a tarefa, acaba contraindo um ferimento na perna que o faz mancar. Após sair da cadeia, Ho recebe a proposta de voltar ao sindicato, mas recusa em prol de uma vida melhor (sacaram o título?). Porém, nada sai muito bem para Ho, pois ele acaba descobrindo que agora é alvo de ódio de Kit, que se tornou um policial linha-dura com sede de vingança, que o verdadeiro traidor agora controla o sindicato, e que Mark o esperou todos esses anos para que pudessem reconsquistar tudo que perderam. Assim, por mais que Ho tente viver uma vida honesta, o passado começa ao perseguir ao ponto de que somente uma última volta a sua antiga vida possa resolver as coisas.


O roteiro, assinado pelo próprio Woo, explora principalmente a relação entre Ho e Kit, o que insere uma dose dramática muito grande ao longo do desenvolvimento. Apesar das grandiosas cenas de ação, Woo não deixa de lado o envolvimento emocional do espectador, e constrói um melodrama muito sólido. Graças a isso, os atores nos brindam com atuações acima da média na maioria dos filmes de ação.


Li Tung, um ator já experiente, interpreta Ho, dando ao papel a seriedade necessário para o personagem. Enquanto, Leslie Cheung, o jovem que interpreta Kit, surpreende principalmente na transformação do jovem doce do início, a um vingador obcecado no segundo momento. Mas o brilho do filme está em Chow Yun Fat. Mark Gor, seu personagem, é extremamente carismático e protagoniza a cena antológica em que acende um cigarro com uma nota de dólar. Mark nos apresentado como homem forte e honrado(pronto a realizar um massacre sozinho com apenas duas pistolar), marcado por experiências difíceis(a cena do bar é sensacional). Além disso, foi um símbolo para o cinema e seu estilo, com um grande sobretudo preto e óculos escuros, chegou a virar moda entre os jovens chineses na época. Incrivelmente, após a prisão de Ho, nós o vemos em um momento muito mais precário, e é nesse momento que Yun Fat impressiona, com Mark manco e vivendo nas ruas, um personagem melancólico, mas ainda sim que não perdeu a força e a coragem, e que permite a Yun Fat demonstrar uma veia dramática rara. E ainda sim, são as falas e atitudes de Mark que marcam o filme, além dele ser o protagonista das melhores e mais bem construídas cenas de ação do filme.



Tais cenas não são tão frequentes quanto em obras posteriores do estilo, mas é possível encontrar uma boa quantidade em A Better Tomorrow, e o que as torna mais sensacionais são a tensão que Woo cria como plano de fundo para elas. O tiroteio final é onde Woo mostra o que ainda estaria por vir de seu cinema, com grandes explosões e momentor irreais de seus protagonistas que pulam na frente de um exército, mas só se ferem quando tem tom drámatico. E claro, em honra do nome, os resultados de cada bala são sempre exagerados jorros de sangue, o que deixa as coisas muito mais interessantes.


Quanto a parte técnica, a fotografia e simples, em tons frios e resaltando pretos e brancos, mas cai como uma luva. A banda sonora é muito acertado, e sabe embalar muito bem os grandes momentos, como a grande musica-tema. A câmera de Woo é inspirada e criativa, principalmente nos momentos agitados de tiroteios, dando a adrenalina necessária nesses momentos, e também sabe conduzir os momentos dramático.

Com ação sensacional. boas atuações e um roteiro com um melodrama que não exagera, A Better Tomorrow é um marco, e conseguiu algo que Woo nunca mais repetiria: sequências (desconsidero Red Cliff porque foi feito pra ser duas partes), apesar de nenhuma manter o clima impecável desse original.


Filmes de ação de Hong Kong =D


Até hoje na parte de filmes eu revisei um filme russo, um filme francês, um filme indicado ao oscar... parecia que eu estava seguindo uma certa regra de falar sobre filmes sérios. Bom, eu nunca estabeleci esse padrão, e pra jogar ele pro alto de vez, eis que resolvi fazer uma série sobre filmes de ação de Hong Kong. (oh, yeah).

Se você nunca ouviu falar no subgênero, esses filmes foram produzidos após uma época em que o cinema chinês produzia praticamente só filmes de artes marciais. Eis que cineastas como John Woo e Ringo Lam resolvem ressuscitar um gênero que os chineses haviam esquecido nos anos 70, os velhos thrillers de gangsters. Obviamente que isso foi somado a um nível de ação badass inigualável, que rendeu até o apelido mais comum desses filmes: Heroic Bloodshed(algo como "Banho de Sangue Heroico").

São características de um Heroic Bloodshed:
  • Protagonista badass pronto pra se enfiar em tiroteios insanos como se isso fosse a coisa mais normal da sua vida, geralmente gangster honrados(Mark de A Better Tomorrow, por exemplo) ou policiais durões(Tequila de Hard Boiled).
  • A trama sempre envolve amizades, traições e a honra dos personagens.
  • A quantidade de sangue quase sempre faz juz ao nome, e os tiroteios são totalmente insanos, com grandes explosões e faíscas voando pra todo lado, e ocasionalmente um pouquinho de kung fu.
  • A marca principal é o uso de uma arma em cada mão (imortalizado pelas pistola duplas de Chow You Fat, que é protagonista de boa parte deles).

Incrivelmente, apesar de parecer um cinema totalmente sem cérebro e sem noção, Heroic Bloodsheds (principalmente os de John Woo) apresentam um certo apuro narrativo e ocasionalmente ótimas atuações.

Bom, vou colocar a lista dos filmes que serão analisados (ou pelo menos pretendo que sejam):

  • A Better Tomorrow I a.k.a Alvo Duplo (1986)
  • A Better Tomorrow II a.k.a Alvo Duplo II (1987)
  • A Better Tomorrow III a.k.a Alvo Duplo III (1989)
  • Bullet In The Head a.k.a Bala na Cabeça (1990)
  • City On Fire a.ka Perigo Extremo (1987)
  • The Killer a.k.a O Assassino (1989)
  • Hard Boiled a.k.a Fervura Máxima (1992)

[HQ] Johnny The Homicidal Maniac



Johnny The Homicidal Maniac é um quadrinho que foi publicado entre 1995 e 1997, escrito e ilustrado por Jhonen Vasquez. No Brasil, Vasquez é mais conhecido por seu trabalho na televisão, mais precisamente Invasor  Zim, sim, aquele desenho da Nickeloden que se você tem a minha faixa de idade provavelmente já deu pelo menos uma olhadinha. E se deu essa olhadinha deve ter sentido o clima escrachado e o leve humor negro que continha o desenho. Bom, Johnny é tudo isso, só que com conteúdo bem mais adulto (e essa é a parte legal).

A história gira em torno de Johnny C., que prefere ser chamado de "Nny", um sujeito que basicamente mata qualquer um que aborrece ele(de preferência de uma forma cruel e extensa) e mora sozinho em uma vizinhança urbana decadente(lugar perfeito para achar muitas vítimas). Mas Johnny também não faz tudo exatamente porque quer, ele tem um certo probleminha: ele precisa drenar o sangue de algumas de suas vítimas para manter fresca a pintura de uma parede de sua casa, pois se não fizer isso pode libertar algo muito ruim que mora lá, e conforme vamos vendo existe muito mais coisa por trás de seu comportamento de que Johnny nem mesmo imagina.

Sobre essa premissa, Vasquez entrega o mais puro e possível humor negro. Logo nas primeira páginas, vemos Johnny invadindo a casa do seu vizinho de 8 anos que acaba de mudar atrás de um remédio, discutir com o ursinho do garoto (sim, isso mesmo), destruir o ursinho (sim, isso também, foi uma conversa um pouco divergente), e sair pela janela alertando o vizinho de que ele não devia mais fechar a janela, porque isso dificultava pra ele. Visita básica de boas-vindas. Ainda aconteceram coisas como o hilário massacre ao som de "Hino À Alegria", a confusão de Johnny ao tentar cometer suicídio em um loja após não conseguir o doce que estava atrás, entre outras que eu não vou estragar a surpresa de quem for ler. Acredite, se você não consegue achar graça em cenas de violência, nem tente ler Johnny. Existe uma cena particularmente hilária que envolve a abertura de um crânio com as mãos, o qual tem o cérebro retirado e pisoteado. Tudo isso na frente de uma criança, claro. Sentiu o clima, né?

Ainda sim, apesar de toda crueldade cometida por ele, Johnny C. é um personagem extremamente carismático. Além de ser meter em situações cômicas, Nny possui opiniões fortes(seu discurso sobre violência no entretenimento é muito interessante), e tem uma boa carga dramática, sendo praticamente um alter ego das experiências de Vasquez com a solidão e as incertezas. Uma das partes mais interessantes é seu distúrbio de multipersonalidade encarnada nos bichos de pelúcia, que aos poucos começam a fugir de controle (é tenso, acredite, mas engraçado). Conforme a história avança, os dilemas de Johnny vão se tornando cada vez mais profundos(e os problemas igualmente), e isso não o torna mesmo engraçado em nenhum momento, o que demonstra a habilidade de Vasquez no desenvolvimento do roteiro.

Esse é outro ponto que deve ser citado, a história. Nas primeiras edições, as histórias parecem desconexas, mas a partir de determinado ponto se ganha uma linearidade que junta a maioria desses fatos. Afinal, o que tem atrás da parede de Johnny? O que são realmente os bichos de pelúcia falantes? E conforme vamos obtendo respostas as coisas vão ficando cada vez mais insanas, chegando a um nível totalmente non-sense em certos momentos.


Fora esse arco mais "sério", Vasquez ainda desenvolve enquetes entre as histórias de Johnny que são ainda mais hilários e bizarros. Um deles é supostamente escrito por Nny, o "Happy Noodle Boy", que de happy só tem o nome mesmo, é um pseudo-profeta-homem-palito que não fala coisa com coisa (ex: "Hey, Dog Entity! Rise up and bare your biscuit filthy fangs at the opressive leash wielding demon!!" ), que toma atitudes ainda mais estranhas (como grudar na costa das pessoas) e que de certa forma sempre acaba com um tiro na cabeça, mas sobrevive. Outro é "Woobly Headed Boy", que criaturinha que vive num mundo todo fofo, mas que foi abençoada com um conhecimento superior e por isso tenta alertar seus semelhantes da realidade (pessimista) da vida (o que tem alguns resultados como suicídio, exílio, uma multidão o enxotando), basicamente um Nietzsche vivendo no Discovery Kids. Além do "Meanwhile...", que basicamente são coisas aleatórias como guerra de antigos deuses encarnando em crianças e experiências alienígenas sobre a sexualidade humana(achando que galinhas são as fêmeas humanas, claro).

Além disso, existe dois personagens que chamam a atenção(um pouco por permanecerem vivos dentro desse elenco no mínimo cheio de saídas forçadas). Um deles é Todd, apelidado carinhosamente de "Squee", por Johnny. Todd é o vizinho de 8 anos de Johnny, e um de seus poucos amigos, que se assusta facilmente e carrega um ursinho pra todo lugar que vai. Ignorado pelos pais, a única pessoa que realmente se importa com ele é Johnny, e talvez por isso se afeiçoe a ele. A outra é Devi, a garota por quem Johnny acaba tendo certo interesse amoroso(mas as coisas não vão muito bem), e é outra das poucas pessoas que se afeiçoa a Johnny(e igualmente uma das poucas que saiu viva de sua casa). Ambos ganharam quadrinhos próprios depois do fim de Johnny The Homicidal Maniac, Todd em Squee! e Devi em I Feel Sick. (quem sabe se der pique eu ainda escreva sobre esses aqui também).


Mas se existe algo desafiador é estilo em que Vasquez produziu o quadrinho. Basicamente o traço tenta inserir o máximo de informação em letra garranchada possível no balões (por vezes gigantes), e também dos lados, perdidos no fundo do quadrinho, etc. Toda vez que você reler um capítulo vai achar um detalhe que não tinha visto. Além disso, apesar de apressado e propositalmente escrachado, o traço de Vasquez possui uma característica única e encantadora para aqueles que conseguirem notar certo detalhismo em algumas situações, e o cuidado em que ele constrói as cenas, por vezes em total confusão e sujeira, chegando a um certo nível de poluição visual que incrivelmente funciona e de forma magnífica em sua história. Infelizmente, é justamente essa característica marcante dos quadrinhos de Johnny que fazem com que ele provavelmente nunca ganhe uma tradução brasileira(apesar de que isso impede que eu vá ter a raiva de ver uma tradução porca e censurada um dia).

É preciso dar destaque também aos inspirados textos pessoais de Vasquez ao começo de cada edição, sempre francos e incisivos nas questões levantadas pelo autor, e por vezes até mesmo confessionais do próprio, muitas vezes ao lado de páginas do diário de Johnny C., que também são sempre interessantes para se aprofundar na história.

Resumindo, Johnny The Homicidal Maniac consegue reunir o melhor do clima gótico, violência, humor negro, nonsense, e ainda ter uma história excepcional que prende por todas as sete edições, e mostra um trabalho cuidadoso e delicado de Jhonen Vasquez, ouso dizer que é obra-prima.